Não é necessário imaginar. Esses textos, imagens e conteúdos já estão amplamente disponíveis na internet. Bem-vindo ao mundo do “Slop” — uma espécie de lixo digital comparável ao spam, caracterizado como conteúdo de baixa qualidade e duvidoso, gerado por inteligência artificial (IA). Esse fenômeno abrange desde livros e arte até postagens em redes sociais e, cada vez mais, resultados de buscas na internet. Embora não se trate exatamente de desinformação, o “slop” é composto por textos vagos, narrativas estranhas e uma prosa sem vida. Mas será que isso é realmente um problema tão grave?
O que é “Slop”?
O termo “slop” pode lembrar a imagem de comida não-apetitosa sendo despejada em cochos para animais. No entanto, o uso inicial dessa palavra no contexto digital foi para descrever conteúdos gerados por IA em fóruns online. De maneira geral, “slop” refere-se a grandes volumes de dados e informações de baixa qualidade na internet, similar ao termo “pink slime”, usado para descrever notícias de má qualidade que se passam por jornalismo local.
O “slop” pode assumir diversas formas: vídeos, imagens, textos e até mesmo sites inteiros. Além disso, o impacto desse fenômeno não se limita ao ambiente digital. Um exemplo ocorreu em novembro de 2024, quando milhares de pessoas se reuniram no centro de Dublin para um desfile de Halloween inexistente, promovido por um site que usou imagens falsas, avaliações enganosas e algumas fotos reais de outros eventos sem relação com aquele. Um caso similar foi a polêmica experiência interativa Willy Wonka em Glasgow, anunciada com imagens geradas por IA, mas que, na prática, entregou uma experiência de baixa qualidade e acabou sendo cancelada no meio do evento.
E não para por aí. Já viu o Google sugerir usar cola não tóxica para “colar” queijo na pizza? Ou encontrou um livro digital barato, mas irrelevante, aparecendo na sua timeline? Isso também é “slop”.
Por que o “Slop” é um Problema?
No fim das contas, o “slop” gerado por IA alimenta sites que buscam otimizar SEO da maneira mais barata possível. Isso pode afetar o tráfego de portais de notícias e a forma como interagimos com a informação na internet. Por outro lado, alguns comparam o “slop” ao spam de e-mails, que as plataformas conseguiram filtrar de forma eficaz. Embora as “alucinações” de IA — comuns nas primeiras versões de chatbots — tenham diminuído, o “slop” permanece. A grande questão é: esse fenômeno vai desaparecer ou pode degradar todo o ecossistema de informações?
Uma preocupação válida é que, por ser mais barato, rápido e fácil de produzir, o conteúdo gerado por IA se prolifere ainda mais na web. Eventualmente, se esses dados de baixa qualidade forem usados como base para treinar modelos de aprendizado de máquina e grandes modelos de linguagem (MLs e LLMs), o valor e a qualidade da informação podem sofrer um grande declínio.
Outro problema é o chamado “discurso descuidado”, um conjunto de riscos apontado por acadêmicos como Sandra Wachter, Chris Russell e Brent Mittelstadt. Segundo eles, o “discurso descuidado” é a produção de informações geradas por IA que apresentam dados simplificados demais, sutis imprecisões ou respostas tendenciosas, mas que soam confiantes e convincentes. Não é desinformação deliberada, mas sim um conteúdo que pode enganar pela segurança com que é apresentado. Afinal, o maior perigo para a sociedade não é um mentiroso, mas um “fanfarrão”. O problema? Esse tipo de discurso pode facilmente passar despercebido.
O debate em torno do “slop” levanta questões cruciais sobre a confiabilidade das informações na era da inteligência artificial. Enquanto buscamos formas de lidar com esse fenômeno, o desafio é preservar a qualidade e a credibilidade do conteúdo na internet.
