Astrônomos descobrem buraco negro com 36 bilhões de vezes a massa do Sol, o maior já detectado

Astrônomos descobrem buraco negro com 36 bilhões de vezes a massa do Sol, o maior já detectado

Descoberta extraordinária a 5 bilhões de anos-luz da Terra

Um grupo internacional de astrônomos identificou aquele que pode ser o maior buraco negro já observado até hoje. Localizado no centro da galáxia LRG 3-757, que faz parte de uma estrutura de lente gravitacional conhecida como “Horseshoe Cósmico”, esse buraco negro está a cerca de 5 bilhões de anos-luz da Terra e possui uma massa estimada em 36 bilhões de vezes a massa do Sol. Para efeito de comparação, o buraco negro Sagitário A*, localizado no centro da Via Láctea, tem cerca de 4,3 milhões de vezes a massa solar — ou seja, quase 10 mil vezes menor.

Resultados publicados em revista científica com participação brasileira

O estudo foi publicado no dia 7 de agosto na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, com destaque para a participação do pesquisador brasileiro Carlos Melo, doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A descoberta está chamando a atenção da comunidade científica por desafiar teorias anteriores sobre os limites da massa de buracos negros e a evolução de galáxias.

Galáxias e buracos negros crescem juntos

Segundo o portal Space.com, existe uma forte correlação entre o tamanho das galáxias e a massa dos buracos negros localizados em seus centros. À medida que a galáxia cresce, o buraco negro também tende a aumentar. Essa coevolução sugere que buracos negros influenciam diretamente a estrutura e a formação de estrelas nas galáxias, por meio de sua gravidade intensa e emissão de energia.

Técnica de lente gravitacional foi essencial na medição

Para realizar a medição da massa do buraco negro, os cientistas utilizaram o fenômeno da lente gravitacional, previsto pela teoria da relatividade geral de Einstein. Quando uma galáxia muito massiva se alinha entre a Terra e uma galáxia mais distante, sua gravidade curva a luz da galáxia de fundo, criando uma imagem distorcida em forma de anel — conhecida como “Anel de Einstein”. Esse efeito foi observado no Horseshoe Cósmico, indicando a presença de um objeto extremamente massivo.

Um buraco negro adormecido, mas com efeitos visíveis

Ao contrário dos buracos negros ativos, que emitem radiação ao absorver gás e poeira — conhecidos como Núcleos Ativos de Galáxias (AGN) —, esse buraco negro está em estado “adormecido”, o que o torna ainda mais difícil de ser detectado. Ele não emite luz, mas sua presença foi inferida pela maneira como a luz de outras galáxias foi distorcida ao seu redor. O fato de ter sido detectado mesmo sem atividade energética reforça sua importância para os estudos da evolução cósmica.

Possível fusão de buracos negros de galáxias vizinhas

Os pesquisadores acreditam que esse buraco negro supermassivo tenha se formado a partir da fusão de vários buracos negros de galáxias próximas, que colidiram e se fundiram no centro de um aglomerado galáctico. Essa hipótese ajuda a explicar como objetos tão gigantescos podem se formar ao longo de bilhões de anos.

Desafio às teorias existentes sobre a evolução do universo

A descoberta pode alterar o entendimento atual sobre a formação e o crescimento de buracos negros e galáxias. Até agora, estimava-se que os buracos negros mais massivos estivessem na casa das dezenas de bilhões de massas solares, mas com grande margem de incerteza. A medição obtida neste estudo tem margem de erro de apenas 35%, considerada precisa para esse tipo de observação.

Lente gravitacional e telescópios de ponta foram cruciais

Para chegar a esse resultado, os cientistas usaram imagens captadas pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA e pelo Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO). A distância gigantesca do objeto torna impossível acompanhar os movimentos individuais das estrelas, mas a massa colossal do buraco negro permitiu calcular o movimento de grandes volumes de matéria ao seu redor.

Buraco negro sem AGN pode ser o maior do universo já confirmado

Embora existam buracos negros com massa estimada em até 40 bilhões de vezes a do Sol, esses números são baseados em observações de AGNs, que envolvem um alto grau de incerteza. O buraco negro do Horseshoe Cósmico, por outro lado, foi medido com maior precisão e, por isso, pode ser considerado o maior já confirmado até hoje.

Caminho para o entendimento do destino final das galáxias

Os autores do estudo ressaltam que a descoberta representa um vislumbre do estágio final da evolução das galáxias e seus buracos negros centrais. “É possível que estejamos testemunhando uma fusão final de várias galáxias e seus buracos negros centrais, resultando em um buraco negro ultramassivo”, concluem os pesquisadores.